terça-feira, 25 de março de 2014

"Você tá bem, moça?"

Estava no metrô, voltando na faculdade quando desci na minha estação de destino. Pensei alto e disse: "Aqui é tão perigoso. Graças a Deus que nunca sofri nenhum assalto... Mas já pensou se eu sou assaltada agora?" Subi dois lances de escada, tirei os fones da bolsa que eu nunca, nunca mesmo faço uso quando volto pra casa justamente para evitar possíveis roubos, coloquei a minha música preferia para tocar. Eu estava feliz, mesmo me sentindo tão cansada.

Saí da estação e a menos de 50 metros da porta, uma menina me parou. Eu entendi e desviei. Agarrei o celular por impulso. Ela puxou meu fone e disse: "Me dá o celular agora, vai!!!". Na mesma hora, mais três ou quatro meninas, chegaram perto e formaram uma roda a minha volta. Eu tentei correr, num gesto impensado... Na ocasião, eu estava usando uma blusa meio larga e então ela me puxou pela blusa. Quase fiquei de sutiã no meio da rua... fiquei com tanta raiva da garota, que deveria ter seus dezoito anos de idade, que gritei socorro aos poucos homens que passavam pela rua.  Nenhum deles me ajudou. Mas afinal, o que é que eles poderiam fazer por mim, não é? Sei que no meio da confusão, uns deles pararam pra observar a cena. Cena essa que ficou pior nos minutos seguintes.
A menina continuou me puxando e acabei pisando em falso na guia da calçada que caí no chão na frente de um ônibus. Por sorte, ele estava parado e pronto para sair do ponto. Foi tudo tão rápido...
Eu ali, jogada no chão, indefesa me senti humilhada. Pela situação, pela cena, por mim... Ainda fui obrigada a ouvir a pergunta da tal garota que tentou me assaltar: "Você tá bem, moça?"

Eis que finalmente, dois homens vieram me ajudar. Acho que eles me levantaram, eu não me lembro... Um deles ainda me falou "Entra no ônibus e vai pra sua casa! Vai logo antes que elas voltem." E aí eu disse que morava próximo do local. Eles foram tão legais comigo... Liguei pra minha mãe e ela foi me buscar num local mais movimentado... enquanto ela não chegou, os dois homens ficaram comigo "me protegendo" e tentando fazer com que eu esquecesse da situação. Os dois eram gays. Não que isso faça diferença, mas acabei percebendo porque um deles disse que o homem que havia passado por nós naquele instante era muito bonito e o outro concordou. Um deles se chamava Fernando, e perguntou se eu queria um abraço. Eu disse que sim... e ganhei um abraço bastante confortante num momento de tanta adrenalina. Na conversa, acabei descobrindo que eles nunca passam por aquele lugar, eles só estavam ali porque haviam acabado de sair da Santa Casa onde o amigo deles estava internado. O menino tinha dezenove anos e havia sofrido dois AVCs. O Fernando disse pra mim que ele estava sem esperança porque ele já estava em coma... mas que ainda estava rezando para que tudo terminasse logo e bem. Notei a expressão de tristeza no rosto dele. Eu infelizmente, não pensei em nenhuma frase melhor para conforta-lo a não ser um "Vai dar tudo certo..."
Ele ainda me disse "Aqui no Centro é muito perigoso. No lugar que eu moro, ninguém rouba ninguém. É lá no Marsilac..." Eu tentei me justificar, dizendo que morava no mesmo lugar há nove anos e NUNCA havia sido assaltada. Mas não resolveu... e sinceramente, eu não queria discutir nada.

Minha mãe chegou, com a palavra "preocupação" escrita na testa. Afinal já era tarde, eu não havia chego em casa e pedi pra ela ir me buscar depois de um quase assalto.
Eu me despedi do Fernando e do outro menino e agradeci: "Muito obrigada pela ajuda de vocês. Muito obrigada mesmo. Obrigada de verdade, de coração. Eu estimo melhoras ao seu amigo!" e fui embora.

Ao relatar o acontecido pra minha mãe me exaltei. Acho que foi quando a raiva realmente subiu. Mas disse a ela que ao cair, fiquei igual à um frango de padaria no chão. Desses que a gente compra da 'tevê de cachorro' com as asas e pernas para cima. Ela riu... eu ri. Disse isso pra amenizar a situação e relaxar porque já passava das 23:50 e eu precisava dormir pra acordar às 4h.

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